Como o blog se chama Guano4Ever, escolhi um tema sobre música. A minha ideia acerca do panorama musical mudou bastante quando descobri uma banda de metal progressivo: Tool. Oriundos de Los Angeles, formados em 1991, os Tool contam com três álbuns (Undertow, Aenima, Lateralus) e dois Eps (Opiate, Salival). Como os descobri? Através de um videoclip bizarro que costumava passar na MTV (pasmem-se!), Schism era o nome desse tema. Fiquei desde logo fascinado com a sua visão e sonoridade. A rendição deu-se quando ouvi na rádio (Rádio Comercial, pasmem-se de novo!) um segundo single, Lateralus, com cerca de nove minutos e meio. Assim que terminou de tocar, disse para mim mesmo, ainda incrédulo com a densidade do que tinha ouvido: tenho que comprar este cd! Quando pu-lo a tocar, logo na faixa inicial The Grudge fiquei imediatamente com a noção de que estava a ouvir algo verdadeiramente estrondoso. Ao longo das faixas reparava que tinha entrado numa viagem com contornos épicos. Estava perdido algures. Havia uma obscuridade, um brilhantismo que nunca tinha encontrado em qualquer outra banda, ou género de música que tivesse escutado. Na minha modesta opinião, descrever a música dos Tool torna-se num processo demasiado arriscado. Poderia somente dizer que se trata dum estilo intricado, denso e obscuro capaz de nos fazer deslocar numa viagem rocambolesca ao transcendente. Poderia dizê-lo e ficar por aqui. Mas direi mais, que não se encaixam em nenhum género conhecido. São conotados como metal progressivo mas mesmo dentro desse estilo não há comparações possíveis. É como uma arte abstracta, crua, aparentemente sem sentido, pois não é fácil digerir tal sonoridade incontornável. Acontece que os nossos sentidos são bombardeados a cada nova audição. Entramos em transe, num estado volátil e por conseguinte somos surpreendidos quando descobrimos que essa mesma arte abstracta tem muito mais do que se lhe diga. É sempre subjectivo quando apreciamos arte. É assim que contemplo as suas composições musicais, como manifestos de arte que ultrapassam a barreira dos seis minutos e em alguns casos a dos nove, dez minutos. É complicado apontar uma composição preferida. Talvez a versão ao vivo de Pushit, uns treze minutos e meio capazes de despontar diversas sensações. Estiveram apenas uma vez em solo português. Registou-se no evento Ozzfest, no Estádio do Restelo no dia 4 de Junho de 2002. A banda acabou por ser cabeça de cartaz, visto que o Senhor Ozzy Osborne não rejeitou o convite feito pela Rainha de Inglaterra aquando do seu jubileu. Assim os Tool alargaram o seu espectáculo para duas horas num dia em que não parou de chover. E eu infelizmente não estive presente... Noto uma enorme coesão entre os quatro elementos. Todos se equivalem na habilidade e originalidade: Ao som das melodias eléctricas compostas por Adam Jones, um guitarrista de um talento inesgotável não só em termos musicais como em visuais; Na bateria encontra-se Danny Carey, capaz de batidas alucinantes e estranhos ritmos maquinais. É como se a sua bateria tivesse uma voz; A linha do baixo a cargo de Justin Chancellor ganha uma vida e uma energia estonteantes como nunca tinha sentido em nenhum outro baixista; A voz que está entre um murmúrio e um grito, entre um anjo e um demónio. Assim é Maynard James Keenan. Escreve sempre de um modo intenso quer esteja a falar de amor, de raiva, ou obsessão. Seja qual for a temática vai ao cerne da questão demonstrando a mesma carga afectiva. Todavia não é só a profundidade das suas letras que realço. É a forma como as canta, melodias envoltas de atmosferas íntimas, elevando assim a sensibilidade, a sua e a do ouvinte. É como se as suas palavras se transformassem num autêntico instrumento. Consigo perscrutar um melhoramento a cada álbum. Considero que o seu terceiro, Lateralus, roça a perfeição. Apesar de terem ganho um grammy com o álbum Aenima creio que não irei ouvir melhor que Lateralus, nem dos Tool nem de qualquer outra banda. Simplesmente não consigo conceber um álbum melhor. A acrescentar a sua sonoridade incomparável apresentam vídeos, criados pelo próprio guitarrista Adam Jones, sempre povoados por criaturas estranhas e distantes, exactamente como eles se caracterizam perante a indústria musical. Senão vejamos, em termos de sonoridade não se inserem em nenhuma categoria existente, não seguem regras pré-estabelicidas pelas editoras, são responsáveis pela arte discográfica e pelos bizarros videoclips onde nunca aparecem e raramente são transmitidos (Parabol/Parabola é o meu preferido pelos seus pormenores e detalhes encantadores), são os próprios que criam as imagens visuais que apresentam em concerto, raramente dão entrevistas e as músicas não tocam nas rádios e mesmo assim conseguem vender milhões de álbuns em todo o mundo.